A Guerra dos Farrapos também conhecida como Revolução Farroupilha foi um dos acontecimentos mais marcantes no Brasil. Apesar de ser um conflito regional, o exemplo dos revolucionários do Sul do país foi seguido por muitos republicanos que lutaram pela liberdade, assim influenciando em outros movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras.
David Canabarro e Bento Gonçalves. |
Esse importante evento aconteceu na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, iniciando-se no ano de 1835 e se estendendo até 1845, quase uma década de uma guerra sangrenta, cheia de vitórias e derrotas.
A guerra se deu devido ao descontentamento político com o governo imperial brasileiro, pois a província de São Pedro, ao contrário de outras, produzia principalmente para o mercado interno, seus principais produtos eram o charque e o couro.
Sendo assim ficava totalmente dependente do mercado brasileiro, e com os altos impostos cobrados no comércio de suas mercadorias e ainda devido à entrada do charque e couro de outros países, como o Uruguai e a Argentina, resultou em uma grande concorrência, pois os produtos estrangeiros possuíam o valor menor que os dos sulistas, causando grande revolta por parte dos estancieiros.
Assim eles decidiram se reunir para debater sobre o assunto, durante as reuniões governamentais, principalmente a partir de 1831, quando começaram a ser difundidos boatos sobre a separação da província, a qual tinha como objetivo se unir ao Estado Oriental, na fronteira a revolução estava sendo pregada, prometendo também a liberdade aos escravos.
Contribuindo ainda mais com as ideias revolucionárias estava padre Caldas, um revolucionário refugiado da confederação do Equador que se encontrava no Uruguai e se correspondia com os comandantes da fronteira, dentre eles Bento Gonçalves, o qual teve grande importância no movimento republicano.
O conflito ideológico se tornou mais intenso com a criação da Sociedade Militar, no Rio de Janeiro, um clube que era a favor do Império e apoiava o governo de D. Pedro I. O Conde de Rio Pardo foi um dos líderes do clube e no ano de 1833 fundou uma filial em Porto Alegre, não agradando nada aos estancieiros rio-grandenses, que pediam ao governo provincial que a tornasse ilegal.
Devido aos protestos ocorreu uma rebelião popular, mas esta foi logo abafada e seus líderes punidos.
Os estancieiros que se revoltaram contra o governo imperial eram chamados de farrapos ou farroupilhas, um termo depreciativo usado pelo parlamento há uma década antes da Guerra dos Farrapos. Com o tempo esse termo foi adotado pelos próprios revolucionários, sendo motivo de orgulho e não de humilhação. E em contrapartida, eles chamavam seus oponentes imperiais de caramurus, um termo jocoso aplicado aos membros do Partido Restaurador no Parlamento Imperial.
Muitos membros do movimento farroupilha acreditavam que somente com a independência das províncias poderiam ter maior autonomia para o bem de seus próprios interesses. No grupo havia uma grande variedade de pessoas que buscavam de uma forma ou outra alcançar o mesmo objetivo, a liberdade. Assim além dos estancieiros se uniram estancieiros-militares, farroupilhas-libertários, militares-libertários, estancieiros-farroupilhas, abolicionistas e escravos. Mesmo assim no início nem todos eram republicanos e separatistas, mas os acontecimentos levaram a esse fim.
Em 1835, descontentes com a situação, os membros do grupo se reuniam em suas casas para debater sobre as providências que deveriam tomar. Então Antônio Rodrigues Braga foi nomeado como presidente da Província, apesar da decisão ter agradado aos liberais no início, na sessão inaugural da Assembleia Provincial ele acusou os liberais de planejarem separar o Rio Grande do Sul do Império e uni-lo ao Uruguai. Revoltados com a acusação do presidente houveram grandes protestos em sessões seguidas, assim eles decidiram tomar Porto Alegre e destituir o presidente provincial Fernandes Braga.
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Entre os comandantes das tropas destacou-se Bento Gonçalves que as liderando, juntamente de outros comandantes que lideravam suas respectivas tropas, o ataque aos militares deu resultado devido ao fato deles ser inexperientes e também por poucos obedecerem às ordens de Braga, se unindo aos revolucionários. Sem saída Braga resolveu fugir, pegando documentos e todo o dinheiro dos cofres provinciais. Assim como Porto Alegre se encontrava desprotegida e abandonada foi tomada pelos revolucionários. A Câmara Municipal reuniu-se para ocupar o cargo de Presidente, assim assumindo o Dr. Marciano Pereira Ribeiro.
Mais tarde Bento Gonçalves enviou uma carta ao Regente Imperial, padre Diogo Antônio Feijó, explicando os motivos da revolta e requerendo a nomeação de um novo Presidente e comandante de armas, assim dando o conflito por encerrado. Porém se dirigindo para o Rio de Janeiro, Fernandes Braga contou na Corte sua versão da história, a qual era bem diferente da carta enviada por Bento Gonçalves.
Dessa forma foi indicado para a presidência do Rio Grande José Araújo Ribeiro que veio com um incrível aparato de guerra, com 11 brigues esscunas, canhoneiras, lanchas e iates, carregados de armamento e vários soldados imperiais.
Ele foi convencido por Bento Manuel, que havia apoiado a revolta inicial e vendo seus próprios interesses mudou de lado para ainda trocar mais duas vezes durante a disputa, e também por outros amigos a permanecer, com a promessa de apoio à Presidência. A posse de Araújo Ribeiro foi interpretada pelos liberais como declaração de guerra, reunindo seus soltados que estavam dispersos, sob a presidência de Marciano Ribeiro.
Assim Araújo Ribeiro, como presidente imperial da província recompôs seu exército, reunindo oficiais gaúchos e até mesmo mercenários vindos do Uruguai.
Ele também mandou fechar a Assembleia Provincial e destituiu Bento Gonçalves do comando da Guarda Nacional, nomeação que havia sido feita por Marciano José Pereira Ribeiro, assim desautorizando-o, a partir daí deu-se a resistência em Rio Grande e a perseguição aos liberais, iniciando a Guerra dos Farrapos.
No mesmo ano de 1835 Bento Gonçalves é preso e passa a liderança do movimento ao general Antônio de Souza Neto.
Passado um ano, os farrapos conquistaram diversas vitórias, proclamando a República Rio-Grandense e nomeiam Bento Gonçalves que ainda estava na prisão como presidente. Em 1837 Bento Gonçalves foge da prisão e assume a presidência, assim se seguem anos de inúmeras batalhas.
Entre os acontecimentos mais marcantes da guerra está a formação da Marinha Farroupilha formada por Giuseppe Garibaldi, um revolucionário italiano que se uniu a causa farroupilha, e foi de grande importância atacando de surpresa os militares imperiais, tomando a cidade de Laguna.
Navio de Garibaldi |
Assim em 1º de março de 1845 foi assinado o Tratado de Poncho Verde ou paz do Poncho Verde, após quase dez anos de guerra, a qual casou milhares de mortes. Entre as condições para o acordo de paz por parte dos farrapos estava a libertação dos escravos que combateram e a escolha de um novo presidente provincial pelos farroupilhas.
Porém muitos dos escravos sobreviventes foram vendidos novamente como escravos, outros se uniram a Neto em seu exílio no Uruguai e outros foram incorporados ao Exército Imperial. Como presidente, mais tarde por sua conduta nobre e correta para com os oponentes, o Duque de Caxias (Luis Alves de Lima e Silva) foi indicado para presidente da Província de São Pedro do Rio Grande.
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